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domingo, 21 de outubro de 2012

A Importância da Nossa Greve


Todos os dias os Portugueses são bombardeados com notícias sobre a greve nos portos cuja verdade fica perdida nos critérios editoriais da comunicação social.

Desde há largas semanas, os Estivadores estão em greve e durante este percurso têm desenvolvido variadas formas de luta. Actualmente, a “greve” dos Estivadores cinge-se aos sábados, domingos e feriados e dias úteis entre as 17 e as 08 do dia seguinte. Cada estivador em "greve" trabalha, afinal, o que trabalha cada português que ainda não está no desemprego: 8 horas por dia, 40 horas por semana.

• Sabia que o ritmo de trabalho de um estivador atinge 16 ou 24h por dia?

• Sabia que nos portos se trabalha 24 horas por dia, 362 dias por ano?

• Sabia que somos dos poucos países da Europa onde os estivadores não têm direito a reforma antecipada por profissão de desgaste rápido?

• Sabia que o trabalho na estiva é hoje extremamente especializado requerendo uma formação profissional exigente e sofisticada?

• Sabia que os equipamentos pesados envolvidos nas operações proíbem amadorismos causadores de muitos acidentes mortais ou incapacitantes?

As empresas em vez de exigirem uma requisição civil dos Estivadores deveriam exigir o cumprimento da Lei aprovada em 1993 por um governo Cavaco Silva.

Se os Estivadores “merecem” uma requisição civil, porque não exigir que essa requisição se estenda a todos os Portugueses que ainda conseguem trabalhar um turno de trabalho e transformamos este País num campo de trabalhos forçados?

Com os Estivadores a trabalhar um turno normal de trabalho interessa responder a outra pergunta. Como é que havendo, neste momento, portos mais ou menos amigos a trabalhar, esta nossa “greve” provoca o bloqueio económico do País e entope as exportações redentoras?

Pura e simplesmente porque as empresas do sector não querem admitir para os seus quadros as largas dezenas de jovens profissionais de que o mundo da estiva necessita e o País jovem e desempregado anseia.

Mas então é “só” por isto que os Estivadores estão em “greve” tão prolongada? Claro que não. Ao longo dos anos as greves nos nossos portos têm-se sucedido por esta mesma razão. As empresas do sector apenas têm admitido novos Estivadores profissionais na sequência de greves de Estivadores.

A novidade com que nos defrontamos hoje é que as empresas monopolistas do sector portuário aproveitaram a passagem, esperamos que fugaz, de um governo com cartilha ultraliberal assumida, para lhe encomendar uma lei que acabe com a nossa segurança no emprego, as condições dignas de trabalho e a nossa forte organização sindical que teve origem no distante ano de 1896.

Os Estivadores, porque têm essa memória bem presente, não se esquecem que já foram todos precários até 1979 e recusam voltar a esses tempos de escravatura, de indignidade e de miséria.

Em linha com a destruição do País, em curso, o governo fez um acordo perverso com pseudo-organizações sindicais que representam, quando muito, 15% dos Estivadores – simulando um acordo nacional – e incendiou deliberadamente os portos onde trabalham os restantes 85% dos Estivadores portugueses. Com total menosprezo pelos prejuízos para a economia nacional que sabia ir provocar.

Este governo assinou um acordo com os “amigos” de Leixões onde, nas últimas duas décadas, o sindicato local negociou uma diminuição salarial de cerca de um terço para os seus sócios e o retalhamento do respectivo âmbito de actividade, em clara violação da lei em vigor. Ilegalidade consentida pela tutela.

Assim, desde 1993, as empresas portuárias do porto de Lisboa admitiram cerca de 200 novos Estivadores efectivos enquanto, em Leixões, e no mesmo período, as empresas locais que pertencem aos mesmos grupos económicos das de Lisboa, admitiram o total de ZERO novos Estivadores efectivos.

Como se não bastasse a estes “sindicalistas” terem alienado o futuro dos seus sócios e respectivos filhos, bem como da restante juventude local, pretendiam agora, através deste acordo indigno, alienar as hipóteses de muitos jovens Portugueses, pelo País fora, encontrarem no sector portuário uma alternativa para o desemprego, a precariedade, a miséria, a dependência e a emigração forçada.

Se aceitássemos o que esta parceria governo/patrões/”sindicatos” nos quer impor, dois terços dos actuais Estivadores profissionais iriam engrossar as filas do desemprego. A que propósito, quando hoje nos querem forçar a trabalhar 16 e mais horas por dia? É pela dignidade da nossa profissão que estamos em luta e pela criação de imensos postos de trabalho dignos nos portos portugueses.

Os Estivadores de Lisboa, Setúbal, Figueira da Foz, Aveiro, Sines, Viana do Castelo, Caniçal – Estivadores de todo o Portugal - lutam por um futuro com dignidade para os Portugueses. Por isso gritamos bem alto. E não nos calam!

Blog: http://estivadeportugal.blogspot.pt
Facebook: Estivadores de Portugal

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